
Imagem: iStock/ Edson Souza
No exterior, os mercados globais tentaram recuperar o fôlego na segunda-feira (16), após a onda de aversão a risco registrada na última sexta-feira (13), provocada pela deterioração do conflito no Oriente Médio. A escalada entre Israel e Irã segue em curso, mas, até aqui, os desdobramentos permanecem dentro do que os mercados já esperavam: Israel ataca sistematicamente alvos militares ligados ao programa de mísseis iraniano, enquanto o Irã responde com o que ainda lhe resta de arsenal balístico.
Apesar da gravidade da situação, o comportamento dos ativos sugere uma leitura mais contida por parte dos investidores — e, curiosamente, com um dólar que parece ter perdido parte de sua aura defensiva. A divisa americana, que historicamente se fortalecia em momentos de incerteza global, tem mostrado fraqueza desde o início do ano, pressionada por dúvidas persistentes sobre a sustentabilidade fiscal e comercial dos EUA. A “segurança” do dólar, nesse contexto, tornou-se um conceito mais retórico.
Do ponto de vista geopolítico, um ponto de alívio relativo veio com o sinal, ainda inicial, de que o Irã estaria disposto a retomar negociações em torno de seu programa nuclear — o que não chega a surpreender, dada a magnitude dos ataques israelenses recentes, que teriam infligido danos sérios e duradouros à infraestrutura iraniana. Se confirmada, essa ofensiva teria atrasado o programa por anos, talvez até décadas.
É claro que o risco de novas ondas de instabilidade na região segue no radar, mas a percepção marginal do mercado nesta segunda-feira foi ligeiramente mais construtiva. Ainda assim, o presidente Donald Trump, por exemplo, deixou a cúpula do G7 antes do encerramento oficial, retornando a Washington para tratar diretamente da crise.
Na seara monetária, tivemos o primeiro movimento de uma semana particularmente carregada de decisões de política monetária ao redor do mundo. O Banco do Japão manteve sua taxa básica em 0,5%, abrindo a série de anúncios esperados nos próximos dias — incluindo EUA, Brasil, Reino Unido, China e Turquia. O palco está montado. Agora, resta ver se os atores principais conseguirão conduzir o espetáculo.
· 00:59 — O governo coleciona mais uma derrota em meio ao caos global
No Brasil, o Ibovespa iniciou a semana em alta, acompanhando o movimento de recuperação global após a aversão a risco do último pregão. Mas o que realmente chama atenção é a resiliência quase surpreendente dos ativos locais, que caem menos quando o mundo desaba e reagem com mais vigor nos momentos de trégua. A explicação não é mística — está ancorada em fundamentos que vínhamos destacando desde o início do ano. Primeiro, a rotação global de capitais segue beneficiando o Brasil. Em um ambiente de realocação regional, o fluxo estrangeiro continua entrando. Segundo, a expectativa de fim do ciclo de aperto monetário, com possível alta residual de 25 pontos-base na Selic nesta Super Quarta, já reacende discussões sobre eventual corte de juros no fim do ano. Terceiro, a crescente percepção de que o atual governo perdeu o pulso da política fiscal e que, por isso mesmo, uma candidatura mais comprometida com o equilíbrio das contas públicas pode se tornar competitiva.
Tudo isso em um cenário internacional que, embora turbulento, não necessariamente aponta para uma recessão global iminente. E convenhamos: os balanços do último trimestre por aqui não vieram nada mal. O suficiente, inclusive, para justificar projeções ambiciosas, como a da Principal Asset Management, que fala em dobrar o valor da bolsa brasileira até as eleições presidenciais — aposta inspirada no “efeito Milei” e que, vale lembrar, não nos soa exatamente nova. Já vínhamos defendendo esse call há alguns trimestres. A Ashmore também engrossa o coro, com uma visão estruturalmente otimista para o Brasil, sugerindo mudanças de longo prazo que, segundo eles, “nunca antes se viu por aqui”. Confesso: é possível. Mas com Brasil, o ceticismo nunca é exagero. Ainda assim, não dá para ignorar o tom de otimismo que permeia o ar.
A prova? O dólar caiu ao menor nível em oito meses, reforçando a tese de que a redistribuição dos fluxos globais continua. A percepção de que ainda pode haver um último suspiro na Selic — sobretudo após a leve surpresa positiva no IBC-Br — turbina o diferencial de juros (o famoso “carry trade”) e torna o real mais atraente no relativo.
Em outras palavras, Brasília continua sendo um circo, mas os ativos seguem firmes no picadeiro. Falando em Brasília, o governo sofreu mais uma derrota política: a Câmara aprovou, em regime de urgência, o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que visa revogar a taxação do IOF. Haddad está de férias. Lula, no G7. E quem ficou encarregado da articulação? Rui Costa e Gleisi Hoffmann — justamente os nomes mais afeitos à sabotagem interna. É verdade que ainda há espaço para reverter o estrago, já que o mérito da proposta não foi votado. Mas a fraqueza do governo já ficou escancarada. E isso antes mesmo da instalação da CPI que investigará as fraudes no INSS, mais uma frente de desgaste para um Executivo já severamente desgastado.
A verdade é que a sociedade cansou. O discurso de aumento de impostos — ainda que sob o pretexto de corrigir distorções — já não cola mais, sobretudo quando não vem acompanhado de uma agenda séria de corte de gastos. E sejamos francos: esse governo nem tem convicção, nem capital político para propor algo nessa linha. O debate estrutural sobre o orçamento brasileiro, portanto, foi empurrado para 2027 — e a depender do resultado da eleição, podemos ver uma reforma de verdade. É por isso que o tal “rali eleitoral” tem ganhado tração: não se trata mais de especulação.
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· 01:45 — Mantendo o tom de cautela
Nos EUA, os investidores parecem já ter virado a página dos recentes ataques no Oriente Médio. O comportamento dos mercados ontem foi emblemático: o Nasdaq subiu 1,5%, enquanto o S&P 500 avançou 0,9%, como se o noticiário geopolítico tivesse perdido peso. O gatilho? Sinais vindos do Irã de que há disposição para suavizar o conflito com Israel e retomar as negociações com os EUA sobre seu programa nuclear. Em outras palavras, o mercado precificou que a guerra não deve escalar — ou, pelo menos, não o suficiente para fazer preço por muito tempo.
Os temores mais drásticos que há anos habitam o imaginário ocidental — como um ataque iraniano a bases americanas na região, sabotagem à infraestrutura energética do Golfo ou o fechamento do Estreito de Ormuz — continuam não se concretizando. E, no pragmatismo brutal dos mercados, o que não acontece, não importa. O alívio em relação a esses riscos mais extremos tem, portanto, devolvido algum conforto aos investidores, que agora deslocam sua atenção para a tradicional política monetária.
A próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), que começa hoje (17) e se encerra amanhã, promete ser o verdadeiro divisor de águas da semana. A expectativa majoritária é de manutenção dos juros no atual intervalo entre 4,25% e 4,50%. Mas o que realmente importa é o subtexto — o tom do discurso, a linguagem corporal de Jerome Powell, as vírgulas nas entrelinhas. O mercado busca sinais mais claros sobre quando, afinal, o Fed pretende iniciar o tão aguardado ciclo de cortes.
Apesar de algum alívio recente na inflação, o argumento para paciência segue firme: o mercado de trabalho continua robusto e os efeitos das tarifas comerciais anunciadas recentemente ainda não foram plenamente absorvidos nos índices de preços. Em outras palavras, o Fed vê mais motivos para cautela do que para pressa. A cereja do bolo virá com a publicação do novo resumo das projeções econômicas: um mapa mental das autoridades do Fed sobre juros, inflação, desemprego e crescimento.
· 02:34 — Saída abrupta
Donald Trump abandonou abruptamente a cúpula do G7, no Canadá. A saída repentina alimentou especulações de que os EUA estariam preparando um apoio mais enfático aos movimentos militares do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu contra o Irã, em meio à intensificação dos bombardeios sobre instalações nucleares iranianas. A decisão também custou a Trump uma reunião já agendada com o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, enquanto um encontro anterior com o líder japonês Shigeru Ishiba fracassou em produzir qualquer avanço sobre um possível acordo comercial. Em suma, a presença do presidente foi marcada mais por ruídos do que por resultados — e sua saída prematura esvaziou ainda mais um G7 já esmaecido.
O resultado prático foi uma declaração final diluída, quase constrangida, dos demais líderes do grupo: pedem uma “distensão” no Oriente Médio, mas evitam clamar pelo fim imediato do conflito entre Israel e Irã. Para apimentar o clima, Trump declarou que excluir a Rússia do G7 (antes G8) foi um erro e que não veria problemas na entrada da China no grupo — afirmações que colidem frontalmente com o consenso ocidental.
O presidente Lula circula por lá, com algumas conversas bilaterais agendadas — nenhuma de especial relevância. Os grandes temas estruturantes que deveriam dominar a pauta, como comércio internacional, defesa coletiva e inteligência artificial, foram engolidos pelo noticiário geopolítico e pelo crescente abismo que separa os Estados Unidos de seus aliados tradicionais. Afinal, a visão de mundo que Trump insiste em empurrar é, no fundo, incompatível com a lógica multilateral que o G7, ao menos em tese, ainda pretende sustentar. O fórum, que já vinha perdendo protagonismo nos últimos anos, viu mais um capítulo de sua lenta erosão institucional.
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· 03:23 — Qual o desfecho?
A escalada entre Israel e Irã continua ganhando tração. O objetivo central do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu é claro e conhecido: desmantelar o programa nuclear iraniano. Mas os últimos desdobramentos sugerem que os planos de Israel podem ir além. Em declarações recentes, Netanyahu insinuou que eliminar o líder supremo iraniano encerraria o conflito. Não se trata apenas de uma bravata retórica: trata-se de uma sinalização explícita de que o verdadeiro alvo seria a própria estrutura de poder do regime iraniano. Em outras palavras, o que está em jogo pode ser não apenas a infraestrutura nuclear, mas a permanência do regime teocrático em Teerã.
Os sinais no tabuleiro militar reforçam essa leitura. Os EUA, sob a liderança de Donald Trump — que, ironicamente, prometeu em sua campanha retirar o país de “guerras eternas” —, deslocaram o porta-aviões USS Nimitz do Mar do Sul da China para o Oriente Médio. Além disso, mais de 30 aviões-tanque foram transferidos de bases americanas rumo ao leste do Atlântico. Ainda que essas movimentações possam ser atribuídas, formalmente, a exercícios da Otan ou operações rotineiras, o momento e o volume do reposicionamento militar conferem musculatura adicional à estratégia israelense. Na prática, é um claro endosso à ofensiva liderada por Netanyahu.
Curiosamente, enquanto mísseis ainda cruzam os céus, ganham força rumores sobre uma possível disposição iraniana de negociar. Há quem acredite que a ofensiva israelense já tenha causado danos significativos ao programa nuclear de Teerã — o suficiente para atrasá-lo em décadas. Se for verdade, trata-se de um golpe histórico em um dos principais pontos de tensão da geopolítica global. Um Irã instável, com ambições nucleares intactas, seria um risco à segurança e estabilidade global.
A grande fragilidade do Irã está justamente na sua limitação operacional. Estima-se que Teerã tenha iniciado o conflito com cerca de 2 mil mísseis capazes de atingir território israelense. À medida que o estoque se reduz, a margem de manobra também encolhe. Sem o respaldo de aliados fortes — e com o Hezbollah, o Hamas, os Houthis e as milícias no Iraque já severamente desgastados ao longo dos últimos anos —, a capacidade de resposta do regime iraniano torna-se mais simbólica do que efetiva.
O cenário, portanto, caminha para uma conclusão previsível: um conflito militar de escopo limitado, restrito, mas com consequências potencialmente devastadoras para o Irã. O país, encurralado, tenta equilibrar sua sobrevivência política com a preservação de um programa nuclear que parece, neste momento, mais abalado do que nunca.
· 04:18 — Uma feira aérea
Tradicionalmente um palco de celebração para os grandes feitos da aviação global, o Paris Air Show começou ontem em Le Bourget envolto em um clima sombrio de crise, cautela e danos de reputação. Com mais de 2.400 expositores de 48 países reunidos para apresentar novidades e fechar acordos bilionários — incluindo Airbus, Embraer e Boeing —, o evento, desta vez, ocorre sob uma nuvem particularmente pesada.
O pano de fundo é trágico: o recente acidente com um Boeing 787 Dreamliner da Air India, que resultou na morte de ao menos 265 pessoas na semana passada, lançou uma sombra incômoda sobre o setor e, sobretudo, sobre a Boeing. A CEO da empresa, Kelly Ortberg, sequer compareceu ao evento, alegando a necessidade de supervisionar pessoalmente a investigação. A ausência da executiva simboliza o abalo na recuperação da fabricante americana, que, após anos de tropeços envolvendo falhas de segurança e problemas na linha de produção, ensaiava um retorno à normalidade.
Como se não bastasse, a aviação comercial enfrenta agora outros ventos contrários. O aumento dos custos operacionais, os gargalos persistentes nas cadeias de suprimento — agravados pelas tarifas protecionistas de Donald Trump — e a crescente incerteza geopolítica formam um cenário turvo. O risco de interrupções em rotas aéreas internacionais cresceu, e, mais recentemente, o espaço aéreo se tornou peça de xadrez em conflitos que vão do Mar Vermelho ao Leste Europeu. A guerra na Ucrânia, por sua vez, deu novo impulso aos orçamentos militares e reacendeu o interesse por aeronaves de combate, que ganharam protagonismo no evento. Não por acaso, os caças F-35 da Lockheed Martin e os Rafale da Dassault estão no centro das atenções.
E quem soube capitalizar foi a Airbus. A fabricante europeia dominou a abertura da feira, anunciando um volume impressionante de pedidos — perto de US$ 10 bilhões. A lista inclui até 77 jatos para a AviLease, da Arábia Saudita (10 A350 cargueiros, com 12 opções, e 30 A321 de passageiros, com 25 opções), 25 A350 para a recém-criada Riyadh Air (com opção de mais 25) e 40 jatos A220 para a polonesa LOT (com opção de 84 adicionais). Foi um show à parte — tanto nos números quanto na mensagem: enquanto a Boeing contém danos, a Airbus avança com apetite. E a Embraer? Resta saber se, até o fim do evento, ainda haverá espaço para os jatos brasileiros.
· 05:06 — Montando uma “superinteligência” em IA
A gigante por trás do Facebook, Instagram e WhatsApp — e, não por acaso, uma das principais apostas em inteligência artificial no mercado global — voltou a mirar alto. Sob a liderança direta de Mark Zuckerberg, a Meta está recrutando uma equipe de elite para desenvolver um modelo de IA que ultrapasse, literalmente, as capacidades humanas. Nada de replicar o cérebro: a ambição aqui é superá-lo. Trata-se de um objetivo que faz corar até mesmo os veteranos do Vale do Silício, hoje mais concentrados em modelos “apenas” equivalentes ao intelecto humano.
Essa guinada agressiva acontece em um momento…